Iodoterapia no Câncer de Tireoide: Para Quem é Indicado e Por Que Não é Para Todos

Se você foi diagnosticado com câncer de tireoide, é natural que a palavra "iodoterapia" tenha surgido em sua jornada. É um tratamento complementar muito eficaz, mas que gera muitas dúvidas.
Eu sou o Dr. Erivelto Volpi, cirurgião de cabeça e pescoço, e hoje quero explicar a função da iodoterapia, sua importância e, principalmente, esclarecer o porquê de nem todos os pacientes precisarem dela.
O Papel da Iodoterapia: Um Tratamento Complementar Essencial
A primeira verdade que precisamos estabelecer é: a iodoterapia é um tratamento complementar.
Isso significa que o tratamento primordial e indispensável para o câncer de tireoide é a
cirurgia – a remoção completa da glândula, que chamamos de
Tireoidectomia Total. A iodoterapia entra em cena
depois da cirurgia para potencializar o resultado.
O "Alvo" do Iodo Radioativo
A iodoterapia é um tratamento específico para os tumores da tireoide que são classificados como diferenciados. Felizmente, esses tumores representam a imensa maioria dos casos (mais de 95% de todos os cânceres malignos de tireoide).
Por que eles são chamados de "diferenciados"? Porque as células malignas guardam uma semelhança crucial com a célula normal da tireoide: elas têm avidez, elas "gostam" de iodo.
Essa característica permite que o Iodo-131 (iodo radioativo), quando administrado, seja absorvido seletivamente por esses focos de células cancerosas remanescentes, eliminando-as. Nesses casos, a iodoterapia é muito mais eficaz do que a quimioterapia ou a radioterapia externa tradicional.
Os principais tumores diferenciados que se beneficiam são:
- Carcinoma Papilífero de Tireoide: A imensa maioria dos casos (mais de 80%).
- Carcinoma Folicular.
- Carcinoma de Células de Hürthle.
Por Que Fazer Iodoterapia se a Tireoide Já Foi Removida?
Essa é uma das perguntas mais frequentes no consultório. "Dr. Volpi, se o senhor já tirou toda a minha tireoide, por que preciso tomar iodo radioativo?"
A resposta tem dois objetivos principais:
- Eliminar Resquícios Microscópicos: Após a Tireoidectomia Total, pode haver resquícios muito pequenos de tecido tireoidiano normal ou de células tumorais que o cirurgião não consegue ver a olho nu. A iodoterapia atua fazendo uma "esterilização" desse campo, complementando a cirurgia.
- Diminuir o Risco de Recidiva (Retorno): O iodo radioativo também ajuda a reduzir a chance de o câncer reaparecer em outros órgãos ou nos gânglios linfáticos do pescoço.
A Grande Dúvida: Por Que a Iodoterapia Não é Indicada para Todos?
Muitos pacientes relatam: "Minha vizinha/amiga operou do mesmo tipo de câncer (papilífero) e o médico indicou a iodoterapia. Por que no meu caso não é necessário? Não é mais seguro fazer?"
A resposta é enfática: Não! Fazer iodoterapia sem necessidade não torna o tratamento mais eficaz e expõe o paciente a riscos desnecessários.
Nós temos critérios muito bem estabelecidos, baseados em diretrizes médicas internacionais, para indicar a iodoterapia. O objetivo é evitar o tratamento excessivo e suas possíveis complicações.
Fatores de Risco que Indicam a Iodoterapia
Após a cirurgia, realizamos o que chamamos de Reestadiamento Pós-Operatório, que avalia o risco de recidiva. Levamos em conta diversos fatores para decidir:
- Idade e Sexo do Paciente: Extremos de idade e o sexo masculino (por fatores proporcionais de risco) costumam ter indicações mais frequentes.
- Tamanho e Localização do Tumor: Tumores maiores ou com localização de risco.
- Ruptura de Cápsula: Se o tumor "quebrou a casquinha", ou seja, se ele invadiu estruturas adjacentes ou rompeu a cápsula da glândula.
- Invasão Vascular: Se o tumor invadiu pequenos vasos sanguíneos.
- Metástases em Gânglios: A presença de doença nos gânglios linfáticos ao redor da tireoide.
- Subdivisão do Tumor: O carcinoma papilífero, por exemplo, tem diversas variantes (clássico, de células altas, folicular). Algumas variantes são conhecidas por serem mais agressivas e demandam a iodoterapia.
O Marcador Tumoral: O Papel da Tireoglobulina
Após a cirurgia, a avaliação da Tireoglobulina se torna o exame mais importante para o acompanhamento.
Pense nela como um marcador tumoral, parecido com o PSA para o câncer de próstata. ATENÇÃO: A Tireoglobulina não serve para diagnóstico na presença da glândula, pois ela se altera por inflamações e nódulos benignos e malignos.
No entanto,
após a remoção completa da tireoide, a Tireoglobulina se torna o nosso termômetro. Se ela estiver elevada no pós-operatório, pode ser um sinal de que resquícios de células tumorais ainda estão ativos, o que fortalece a indicação da iodoterapia.
Exemplo Prático do Especialista:
- Paciente com Baixo Risco: Uma mulher de 30 anos, com um tumor papilífero clássico de 1,5 cm, sem gânglios e sem ruptura de cápsula. Essa paciente tem altíssimas chances de cura apenas com a cirurgia, e a iodoterapia provavelmente não fará diferença no prognóstico a longo prazo.
- Paciente com Risco Intermediário/Alto: Um homem de 65 anos, com tumor papilífero de 2 cm, com ruptura de cápsula, achado de gânglios linfáticos e Tireoglobulina pós-operatória elevada. Para este paciente, a iodoterapia é uma ajuda vital e importante para diminuir o risco de recorrência.
Segurança e Eficácia
A iodoterapia é um tratamento super eficaz e, hoje em dia, é muito bem conduzido e seguro. Contudo, assim como qualquer tratamento médico, ele não é totalmente isento de complicações. Embora a maioria dos pacientes não apresente problemas sérios, existem complicações que podem ser relevantes.
Por isso, agimos com responsabilidade: só indicamos a iodoterapia quando nossos critérios técnicos e científicos demonstram que ela será uma ajuda importante no seu prognóstico. Quando não indicamos, é porque sabemos que ela não trará benefício adicional, e o seu caminho para a cura está garantido apenas com a cirurgia.
Confie na avaliação do seu especialista.
Aviso Legal:
Este artigo foi escrito com o objetivo de educar e informar, apresentando a visão de um especialista na área. As informações contidas aqui são baseadas em diretrizes médicas e na experiência clínica do Dr. Erivelto Volpi, mas
não substituem em hipótese alguma a consulta médica presencial ou a avaliação especializada. A sua conduta de tratamento deve ser definida individualmente, após a análise completa do seu histórico, exame físico e exames complementares.
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