Preservação da Paratireoide na Cirurgia de Tireoide: A Chave para o Metabolismo do Cálcio e Sua Recuperação

Cirurgião identificando e preservando as glândulas paratireoides durante uma cirurgia de tireoide para evitar hipocalcemia.

Se você está se preparando para uma cirurgia de tireoide, é natural que a principal preocupação seja a remoção do nódulo ou da glândula doente. No entanto, há um fator invisível e essencial que define o sucesso da sua recuperação e qualidade de vida no pós-operatório: a preservação das glândulas paratireoides.


Eu sou o Dr. Erivelto Volpi, cirurgião de cabeça e pescoço especializado em tireoide e paratireoide. Na minha prática, a proteção dessas pequenas glândulas é uma das prioridades técnicas mais elevadas, pois elas controlam todo o metabolismo do cálcio no seu corpo.


Neste guia completo, vou mergulhar na anatomia, na função e nas técnicas avançadas que utilizamos para garantir que, após a cirurgia, seu corpo continue funcionando em perfeito equilíbrio.

O Que São e Onde Estão as Glândulas Paratireoides?

As paratireoides são estruturas incrivelmente pequenas, mas de importância gigantesca. É crucial entender a sua localização e função:


1. Anatomia do Minúsculo Gigante

  • Número e Tamanho: Geralmente, temos quatro glândulas paratireoides. Elas são minúsculas, cada uma medindo apenas entre 6 e 8 milímetros, e pesam pouquíssimos miligramas.
  • Localização Estratégica: Elas não são a tireoide, mas ficam intimamente ligadas a ela, localizadas na parte de trás da glândula tireoide.
  • Visibilidade em Exames: Devido ao seu tamanho e localização, as paratireoides normais não são visíveis em exames de imagem de rotina, como ultrassom, tomografia ou ressonância magnética. O único "exame" que consegue identificá-las com precisão é o olho treinado do cirurgião no momento da operação.


2. A Função Primordial: O Maestro do Cálcio

A principal função das paratireoides é produzir o Hormônio Paratireoidiano (PTH). Esse hormônio é o maestro que rege o metabolismo do cálcio, que não é apenas importante para os ossos, mas vital para funções básicas da vida:



  • Saúde Óssea: Regula a absorção e liberação de cálcio dos ossos.
  • Função Muscular: O cálcio é essencial para a contração muscular.
  • Sistema Nervoso: O cálcio é fundamental para a transmissão de impulsos nervosos e para o funcionamento do coração.


Em resumo, o PTH garante que a quantidade de cálcio circulante no sangue se mantenha em níveis perfeitos, controlando o que é absorvido no intestino, o que é reabsorvido no rim e o que está nos ossos.

O Desafio Cirúrgico: Protegendo o Metabolismo do Cálcio

Ao realizar a Tireoidectomia Total (remoção completa da tireoide), o cirurgião está trabalhando exatamente na vizinhança dessas quatro glândulas minúsculas. O grande desafio técnico é remover toda a tireoide — seja por um câncer ou por uma doença benigna volumosa — ao mesmo tempo em que se identificam, isolam e preservam as paratireoides.

Por Que as Paratireoides Podem Ser Afetadas?

Durante a cirurgia, a manipulação da tireoide e a ligadura dos vasos sanguíneos podem causar dois tipos principais de injúria às paratireoides:


  1. Dano Vascular (O Risco Mais Comum): As paratireoides dependem de pequenos vasos sanguíneos para sobreviver. Durante a dissecção, mesmo que a glândula seja deixada no local, seu suprimento sanguíneo pode ser comprometido. Sem sangue, ela "hiberna" e para de funcionar temporariamente.
  2. Dano por Remoção Involuntária: Apesar de todo o cuidado, devido ao seu tamanho e à proximidade com o tecido tireoidiano, uma ou mais paratireoides podem, em raras ocasiões, ser removidas inadvertidamente junto com a glândula.



Quando a função de uma ou mais paratireoides é temporariamente comprometida, entramos em um quadro de hipoparatireoidismo transitório.

O Pós-Operatório e a Necessidade de Suplementação de Cálcio

O hipoparatireoidismo (falta de PTH) é a principal causa do baixo nível de cálcio no sangue (hipocalcemia) no pós-operatório.


Sintomas de Hipocalcemia

Se o nível de cálcio cair drasticamente, o paciente pode sentir:


  • Formigamento ou dormência nos lábios, mãos e pés.
  • Câimbras ou espasmos musculares.
  • Em casos graves, pode haver espasmo da laringe (sensação de sufocamento).


É por isso que, rotineiramente, monitoramos de perto os níveis de cálcio e PTH do paciente nas primeiras 24 a 48 horas após a Tireoidectomia Total.


A Suplementação Necessária

Muitos pacientes que realizam a Tireoidectomia Total precisarão de suplementação oral de cálcio e vitamina D (que ajuda na absorção do cálcio) por um período de tempo.



  • Hipoparatireoidismo Transitório: Na maioria dos casos, o uso de cálcio é temporário. As glândulas paratireoides que foram apenas "machucadas" pela manipulação geralmente se recuperam e retomam a produção normal de PTH em semanas ou, no máximo, em poucos meses.
  • Hipoparatireoidismo Permanente: Apenas uma pequena porcentagem de pacientes pode ter um dano permanente nas glândulas e precisar do uso contínuo de cálcio e vitamina D. O uso de técnicas avançadas e a experiência cirúrgica são cruciais para manter essa taxa em um nível mínimo.

Técnicas Avançadas para Preservação 

Como especialista, a preservação da paratireoide é uma meta que exige técnica refinada e tecnologia. Utilizamos diversas abordagens para maximizar a chance de recuperação funcional:


  1. Microdissecção Cuidadosa: A técnica cirúrgica é minuciosa, usando lupas ou microscópios para identificar e isolar os vasos sanguíneos das paratireoides, garantindo que o fluxo sanguíneo não seja interrompido.
  2. Identificação Visual Rigorosa: Devido à variação anatômica, as paratireoides nem sempre estão no mesmo lugar. O cirurgião experiente precisa procurar ativamente por essas quatro estruturas.
  3. Monitoramento por Fluorescência (Técnicas Modernas): Atualmente, podemos usar técnicas de imagem intraoperatória (como a auto-fluorescência) que ajudam a distinguir o tecido da paratireoide do tecido da tireoide, mesmo em campos cirúrgicos com muito sangramento ou inflamação.
  4. Autotransplante: Se uma paratireoide for removida acidentalmente ou se o seu suprimento de sangue for inevitavelmente interrompido, o cirurgião pode retirá-la, fragmentá-la e reimplantá-la em um músculo do pescoço ou do braço do paciente (autotransplante). Se esse tecido "pegar", ele pode retomar a produção de PTH, prevenindo o hipoparatireoidismo permanente.


A cirurgia de tireoide é um procedimento seguro e com altas taxas de sucesso. Ao escolher um cirurgião de cabeça e pescoço com dedicação e experiência nas doenças da tireoide e paratireoide, você garante que a prioridade técnica na preservação dessas glândulas essenciais será mantida.



A recuperação do metabolismo do cálcio é um processo que monitoramos de perto. A necessidade de suplementação de cálcio é comum e esperada no início, mas na vasta maioria dos casos, é um passo temporário em direção à sua total recuperação e ao seu equilíbrio hormonal e metabólico.

Aviso Legal: Este artigo foi escrito com o objetivo de educar e informar, apresentando a visão de um especialista na área. As informações contidas aqui são baseadas em diretrizes médicas e na experiência clínica do Dr. Erivelto Volpi, mas não substituem em hipótese alguma a consulta médica presencial ou a avaliação especializada. A sua conduta de tratamento deve ser definida individualmente, após a análise completa do seu histórico, exame físico e exames complementares.

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