Ablação de Nódulo Benigno por Radiofrequência: O Guia Definitivo da Técnica Minimamente Invasiva

A descoberta de um nódulo na tireoide, especialmente se ele for grande e visível, levanta imediatamente a questão: "Vou precisar de cirurgia?" Por muito tempo, a tireoidectomia (remoção da glândula) foi a única solução para nódulos volumosos, mesmo que fossem benignos.
Felizmente, a medicina evoluiu.
Hoje, a Ablação de Nódulos Benignos por Radiofrequência (ARF) é a vanguarda do tratamento para esses casos, oferecendo uma alternativa minimamente invasiva, que preserva a glândula, sua função hormonal e evita cicatrizes.
Eu sou o Dr. Erivelto Volpi, cirurgião de cabeça e pescoço especializado em doenças da tireoide, e dedico boa parte da minha prática a esta técnica inovadora. Quero explicar em detalhes como a ARF funciona, quem pode se beneficiar e por que ela representa um avanço tão grande na qualidade de vida dos pacientes.
Ablação Apenas para Nódulos Comprovadamente Benignos
É fundamental começar com a regra de ouro que rege este procedimento: a Ablação por Radiofrequência está indicada estritamente para nódulos comprovadamente benignos.
Não podemos e não devemos utilizar esta técnica em nódulos com qualquer grau de suspeita de malignidade. A linha de tratamento para o câncer de tireoide (nódulos Bethesda V ou VI) continua sendo a cirurgia para a remoção completa da doença.
Critérios Essenciais de Elegibilidade
Antes de sequer considerar a ARF, o diagnóstico deve estar estabelecido com segurança:
- Confirmação Categórica: O paciente deve ter o resultado de Bethesda II na Punção Aspirativa por Agulha Fina (PAAF). Em alguns casos de nódulos muito grandes, podemos exigir a confirmação por mais de uma punção, garantindo 100% de certeza sobre a benignidade.
- Exclusão de Suspeita: Nódulos classificados como Bethesda III (Atipia de Significado Indeterminado), Bethesda IV (Neoplasia Folicular) ou superiores, em regra, não são passíveis de ablação.
Ablação Apenas para Nódulos Comprovadamente Benignos
A técnica não se aplica a todos os nódulos benignos. Ela é reservada para aqueles que, apesar de não serem câncer, estão causando problemas reais ao paciente. Os pacientes elegíveis, além da confirmação de benignidade, geralmente se enquadram em uma ou mais destas categorias:
1. Nódulos que Causam Desconforto e Compressão.
Quando o volume do nódulo se torna significativo, ele começa a "apertar" as estruturas vizinhas, causando sintomas incômodos:
- Sintomas Compressivos: Dificuldade para engolir alimentos (disfagia), sensação de "caroço" na garganta, tosse persistente ou sensação de peso na região cervical.
- Tamanho Mínimo: Nódulos que consideramos para a ARF geralmente possuem um tamanho mínimo de 2 centímetros e um volume considerável, pois é a partir deste ponto que os sintomas compressivos se tornam mais evidentes.
2. Preocupação Estética (Desconforto Visual)
Muitos nódulos benignos grandes se projetam no pescoço, causando uma deformidade ou assimetria que gera grande desconforto estético e psicológico no paciente. A ablação reduz o volume do nódulo, suavizando ou eliminando o inchaço visível.
3. Crescimento Progressivo e Risco
Mesmo nódulos que são assintomáticos no momento, mas que demonstram um
crescimento progressivo ao longo do acompanhamento ultrassonográfico, podem ser elegíveis. O objetivo é intervir antes que eles se tornem grandes demais ou comecem a causar sintomas compressivos mais graves.
Como a Radiofrequência Destrói o Nódulo.
O sucesso da Ablação por Radiofrequência reside na precisão da técnica e na natureza controlada do calor.
1. A Agulha de Radiofrequência
O instrumento central é uma agulha especial, que é inserida no nódulo com a precisão milimétrica que só a orientação por imagem pode dar.
- Ponta de Calor Controlado: A agulha gera uma onda de calor controlada, mas a alta temperatura é aplicada de forma muito localizada, concentrada na ponta.
- Baixa Dispersão Lateral: A dispersão lateral desse calor é mínima (geralmente menor que 2 milímetros). É essa baixa dispersão que nos permite operar com segurança perto das estruturas críticas, como a traqueia e os nervos laríngeos (responsáveis pela voz).
2. A Técnica de "Destruição Térmica"
O procedimento é inteiramente guiado pelo ultrassom em tempo real. Eu introduzo a agulha através da pele (por punção) até o nódulo.
- Queima Controlada: Uma vez posicionada, iniciamos a emissão da radiofrequência, que causa uma destruição térmica no tecido do nódulo.
- Movimentação da Agulha: O procedimento envolve uma técnica meticulosa de movimentação da agulha dentro do nódulo, garantindo que toda a área a ser reduzida seja "queimada" de forma homogênea. O ultrassom nos permite ver exatamente onde o calor está agindo (a área de destruição), garantindo que o tecido saudável ao redor seja poupado.
- Duração: O procedimento costuma ser rápido, durando em média entre 30 minutos a 1 hora, dependendo do tamanho e da complexidade do nódulo.
Recuperação Rápida e Preservação Hormonal
A Ablação por Radiofrequência é classificada como um
procedimento minimamente invasivo, e seus benefícios se manifestam claramente na recuperação do paciente:
1. Regime Ambulatorial (Day Clinic)
- Anestesia: A ARF é realizada sob anestesia local e sedação leve. A sedação é utilizada para garantir o conforto do paciente durante o tempo do procedimento.
- Alta: Não há necessidade de internação prolongada. O paciente pode ser liberado do hospital em poucas horas (geralmente menos de quatro horas após o término da ablação) e retornar para casa no mesmo dia.
2. Retorno às Atividades
A recuperação é excepcionalmente rápida.
- Retorno Normal: Na maioria dos casos, o paciente pode retornar às suas atividades normais em 24 horas. É um contraste enorme com a cirurgia convencional, que exige um período de repouso e recuperação mais extenso.
- Sem Cicatrizes: Por ser um procedimento por punção, a ARF não deixa cicatrizes visíveis.
3. Preservação da Função Hormonal (O Grande Trunfo)
O benefício mais significativo da ARF é a preservação integral da função da tireoide. Ao destruirmos seletivamente apenas o tecido do nódulo, o tecido saudável remanescente continua produzindo os hormônios T3 e T4 em níveis normais. Isso significa que o paciente:
- Não Precisa de Levotiroxina: Evita a dependência da reposição hormonal diária.
- Mantém o Equilíbrio Natural: Preserva o eixo hormonal natural do corpo.
O efeito da ablação não é imediato; a redução de volume do nódulo é progressiva, ocorrendo ao longo dos meses seguintes ao tratamento.
A Ablação de Nódulos Benignos por Radiofrequência é uma técnica moderna e eficaz que mudou o panorama de tratamento para milhares de pacientes. Ela oferece a solução para o problema do volume, do desconforto e da estética, sem os inconvenientes e os riscos de uma cirurgia convencional.
No entanto, é uma técnica que exige conhecimento especializado e prática constante. Se você tem um nódulo benigno, converse com seu cirurgião de cabeça e pescoço e verifique se você é um candidato elegível para esse procedimento minimamente invasivo.
A chave é sempre a certeza do diagnóstico e a escolha correta do método de intervenção.
Aviso Legal:
Este artigo foi escrito com o objetivo de educar e informar, apresentando a visão de um especialista na área. As informações contidas aqui são baseadas em diretrizes médicas e na experiência clínica do Dr. Erivelto Volpi, mas
não substituem em hipótese alguma a consulta médica presencial ou a avaliação especializada. A sua conduta de tratamento deve ser definida individualmente, após a análise completa do seu histórico, exame físico e exames complementares.
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