Cirurgia de Tireoide: Entenda os Riscos Inerentes ao Procedimento e a Importância da Experiência Cirúrgica

Cirurgião de cabeça e pescoço realizando tireoidectomia com monitoramento de nervos e preservação das glândulas paratireoides.

Quando a cirurgia de tireoide (Tireoidectomia) se torna necessária — seja para o tratamento de câncer, bócio volumoso ou hipertireoidismo, a primeira preocupação do paciente é sempre a mesma: "Quais são os riscos deste procedimento?"


A Tireoidectomia é uma cirurgia segura, mas é realizada em uma região de anatomia extremamente delicada. Os riscos não estão associados à glândula em si, mas sim às estruturas vitais que a envolvem.


Eu sou o Dr. Erivelto Volpi, cirurgião de cabeça e pescoço especializado em doenças da tireoide. Meu dever é não apenas realizar a cirurgia com o máximo de segurança, mas também garantir que você compreenda o porquê de cada manobra cirúrgica e a importância da experiência do cirurgião para minimizar esses riscos.


Neste guia detalhado, vamos desmistificar os riscos inerentes ao procedimento, focando nas três principais estruturas que exigem atenção redobrada: os nervos da voz, as glândulas paratireoides e o risco de sangramento.

1. O Risco para a Voz: A Vulnerabilidade dos Nervos Laríngeos

A tireoide, com sua forma de borboleta, está presa à traqueia, logo abaixo da laringe (o "gogó" ou Pomo de Adão). Dentro da laringe, estão as cordas vocais, o Vezinho branco que produz nossa voz.

A Anatomia do Risco.

A maior preocupação de qualquer cirurgião de tireoide são os nervos que dão vida às cordas vocais: os Nervos Laríngeos Recorrentes.

  • Localização: Esses nervos passam em íntima proximidade com a parte de trás da tireoide, um nervo para a corda vocal direita e um para a esquerda. Eles estão literalmente "grudados" na glândula.
  • A Dissecção: Para remover a tireoide com segurança, é obrigatório que o cirurgião localize, isole e mobilize esses nervos. Este procedimento é chamado de dissecção e faz parte de uma cirurgia tecnicamente segura.

As Complicações Possíveis

  • Paresia ou Paralisia Transitória (Inflamação): Ao mobilizar o nervo para separá-lo da tireoide, ele pode inflamar. Isso causa uma paresia (fraqueza) ou paralisia temporária na corda vocal. A voz do paciente fica rouca, fraca ou cansada, mas geralmente se recupera espontaneamente em semanas ou meses, pois é uma inflamação, e não um corte.
  • Paralisia Permanente (Lesão Definitiva): É o risco mais temido. Ocorre se o nervo for inadvertidamente cortado ou permanentemente danificado. Se apenas um nervo é lesado, o paciente fica com rouquidão persistente. Se ambos os nervos forem lesados (o que é raríssimo e evitado a todo custo), pode haver um risco imediato de falta de ar.

A Importância do Especialista: Nas mãos de cirurgiões de cabeça e pescoço ou cirurgiões endócrinos experientes, o risco de lesão nervosa permanente é muito baixo, geralmente inferior a $1\%$ em grandes séries de casos. A experiência e o uso de tecnologias como o Monitoramento Intraoperatório do Nervo (IONM) são cruciais para essa minimização.

2. O Risco Metabólico: As Glândulas Paratireoides

Outra preocupação vital são as Glândulas Paratireoides.

A Anatomia do Risco

  • Localização e Tamanho: Geralmente, temos quatro dessas glândulas, que são minúsculas (o tamanho normal é de apenas cerca de 6mm}, como um grão de arroz) e extremamente sensíveis. Elas ficam, literalmente, grudadas na parte de trás da tireoide.
  • Função Vital: Elas produzem o Paratormônio (PTH) e controlam o metabolismo do cálcio em todo o corpo (o cálcio no osso, no sangue, o cálcio que o rim reabsorve).

As Complicações Possíveis (Hipocalcemia)

A Tireoidectomia Total exige a remoção completa da tireoide, e é necessário dissecar e preservar as paratireoides, mantendo seu suprimento sanguíneo intacto.



  • Dano Transitório: A complicação mais comum da Tireoidectomia Total é a Hipocalcemia Transitória. Mesmo com a preservação das glândulas, a manipulação ou a interrupção temporária do suprimento sanguíneo pode fazer com que elas "durmam" por alguns dias ou semanas. Isso resulta na queda dos níveis de cálcio no sangue, causando formigamentos, câimbras e dormência nos lábios e pontas dos dedos. Essa situação é facilmente tratada com a reposição oral de cálcio e Vitamina D.
  • Hipocalcemia Permanente: Ocorre se as quatro glândulas forem permanentemente danificadas ou removidas. O paciente necessitará de suplementação contínua de cálcio e vitamina D pelo resto da vida. Este risco é baixo (geralmente menos de $2\%$), mas é uma complicação que o cirurgião experiente trabalha para evitar a todo custo.

3. O Risco de Sangramento (Hematoma no Pescoço)

A tireoide é a glândula mais vascularizada do corpo. Para ter uma ideia, 1cm³ de tecido tireoidiano tem mais sangue do que a mesma porção de cérebro ou fígado.

A Questão do Espaço

  • A Hemostasia: A cirurgia exige um controle minucioso do sangramento (hemostasia). O cirurgião de cabeça e pescoço/endócrino é treinado para o controle vascular rigoroso dessa região.
  • A Pressão: O sangramento no pescoço (hematoma) é perigoso, não porque o paciente perderá muito sangue, mas porque o pescoço é um espaço restrito, uma "caixinha" pequena. Um volume de 100ml a 150ml de sangue dentro do pescoço pode inchar rapidamente, comprimindo a traqueia e levando à falta de ar.

A Urgência: Um hematoma pós-operatório (que geralmente ocorre nas primeiras 6 a 12 horas após a cirurgia) é uma emergência que exige que o paciente retorne rapidamente ao centro cirúrgico para drenagem e controle do vaso sangrante.

Minimizando os Riscos: O Papel da Experiência

A cirurgia de tireoide é um procedimento que depende criticamente da experiência do cirurgião. A anatomia é complexa e as estruturas vulneráveis não perdoam a inexperiência.


A escolha de um especialista que realize este procedimento com frequência é a principal forma de minimizar a chance de complicações e de garantir que, caso ocorra uma complicação (como a queda de cálcio ou a rouquidão transitória), ela seja reconhecida e tratada imediatamente, evitando sequelas permanentes.


O seu cirurgião deve ter completo conhecimento desses problemas, utilizando técnicas de dissecção seguras e um controle rigoroso do campo operatório.


Espero que estas informações tenham sido úteis. O conhecimento detalhado dos riscos é fundamental para que você possa tomar sua decisão com tranquilidade e confiança.

Aviso Legal: Este artigo foi escrito com o objetivo de educar e informar, apresentando a visão de um especialista na área. As informações contidas aqui são baseadas em diretrizes médicas e na experiência clínica do Dr. Erivelto Volpi, mas não substituem em hipótese alguma a consulta médica presencial ou a avaliação especializada. A sua conduta de tratamento deve ser definida individualmente, após a análise completa do seu histórico, exame físico e exames complementares.

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