Nódulo de Tireoide: O Guia do Especialista para Decidir entre Punção e Cirurgia

Se você acabou de descobrir um nódulo na tireoide, é natural que a cabeça comece a pensar no pior. A pergunta é inevitável: "Será que é benigno ou maligno? O que devo fazer agora?"
Eu sou o Dr. Erivelto Volpi, cirurgião de cabeça e pescoço especializado em doenças da tireoide, e estou aqui para guiá-lo por este caminho. Quero que você entenda que, na grande maioria dos casos, o nódulo de tireoide é um achado benigno. Nosso trabalho, como especialistas, é realizar uma investigação detalhada para ter essa certeza e, juntos, tomarmos a melhor decisão para a sua saúde.
O Ultrassom e o "Olhar" do Especialista
Muitas vezes, a descoberta do nódulo é acidental, feita em um ultrassom de rotina. Outras vezes, o paciente ou um familiar percebe o caroço no pescoço.
Independentemente da forma como foi descoberto, o Ultrassom da Tireoide e do Pescoço é o nosso exame fundamental. Ele é a nossa "janela" para a glândula, sendo muito mais específico do que a Tomografia ou a Ressonância.
No ultrassom, buscamos detalhes que nos dão as primeiras pistas sobre a natureza do nódulo. Não olhamos apenas para o tamanho, mas para a arquitetura do nódulo:
- Consistência: É sólido ou cístico (cheio de líquido)?
- Vascularização: Como o sangue flui dentro dele?
- Bordas e Formato.
- Calcificações: Principalmente as microcalcificações, que são pequeninas e podem levantar a suspeita de malignidade, ou as calcificações em "casca de ovo" (periféricas), geralmente tranquilizadoras.
A Classificação TIRADS
Todas essas características ultrassonográficas são combinadas e utilizadas para criar um escore de risco, conhecido como Sistema TIRADS (Thyroid Imaging Reporting and Data System). Pense no TIRADS como um farol que nos indica a probabilidade de o nódulo ser maligno e, portanto, se precisamos de uma investigação mais profunda.
O sistema vai de 1 a 5, e a chance de malignidade aumenta com o número:
- TIRADS 1 e 2: Representam uma tireoide normal ou um nódulo que é quase certamente benigno. A chance de malignidade é mínima (abaixo de 3%).
- TIRADS 3: Indica um nódulo provavelmente benigno, com uma chance baixa de malignidade (abaixo de 5%). Acompanhamento é a conduta comum, mas o tamanho pode influenciar a decisão de puncionar.
- TIRADS 4: É classificado como um nódulo suspeito. A chance de malignidade aumenta (entre 5% e 80%), e a Punção Aspirativa por Agulha Fina (PAAF) é fortemente indicada.
- TIRADS 5: Indica um nódulo altamente suspeito, com uma alta probabilidade de malignidade (acima de 80%). A PAAF é essencial.
Quando a Investigação Deve Prosseguir?
A decisão de avançar para a Punção não depende apenas do número do TIRADS. Eu analiso o nódulo dentro do contexto do paciente.
Critérios que tornam a Punção (PAAF) mais necessária:
- A Própria Classificação TIRADS: Nódulos TIRADS 4 ou 5, em geral, precisam ser puncionados.
- Fatores de Risco Individuais: O sexo e a idade do paciente são cruciais. Por exemplo, se você é homem e tem mais de 55 anos, a preocupação é maior. Pacientes jovens (abaixo de 30 anos) também merecem atenção redobrada.
- Histórico Familiar: Ter casos de câncer de tireoide na família pode mudar nosso limiar para indicar a PAAF.
- Alterações Clínicas: Nódulos que crescem rapidamente, ou a presença de gânglios (linfonodos) suspeitos no pescoço.
Minha Abordagem: Um nódulo TIRADS 3 de 2 cm em uma mulher jovem, sem histórico familiar, pode ser acompanhado. Mas se o mesmo nódulo for em um homem com mais de 55 anos e histórico de câncer na família, a Punção se torna uma prioridade para mim.
O Exame Decisivo e a Classificação de Bethesda
Se indicarmos a PAAF, quero que você saiba que este é um exame muito simples e seguro.
A Punção é feita em ambulatório, e o procedimento costuma ser rápido. Eu utilizo uma agulha muito fina, semelhante à de coleta de sangue. O que mais dói não é a agulha na tireoide, mas sim o pequeno "beliscão" na pele, onde estão as terminações nervosas. Por isso, a maioria das punções é feita sem anestesia.
As células coletadas são enviadas para o patologista, que as analisa ao microscópio e utiliza a Classificação de Bethesda para dar o resultado final.
A Classificação de Bethesda vai do Bethesda II (Benigno) até o Bethesda VI (Maligno). Ela é o nosso mapa para definir o tratamento:
- Bethesda II (Benigno): O caminho é o acompanhamento.
- Bethesda III e IV (Indeterminado ou Folicular): Aqui, a decisão é mais complexa. Podemos repetir a punção, fazer testes moleculares ou, em alguns casos, indicar a cirurgia para ter a certeza do diagnóstico.
- Bethesda V e VI (Suspeito ou Maligno): A indicação, na maioria das vezes, é a cirurgia.
Acompanhar, Ablacionar ou Operar?
A definição do seu tratamento é sempre uma conversa, baseada na união das informações do Ultrassom (TIRADS) e da Punção (Bethesda).
- Acompanhamento: É a conduta mais frequente. Nódulos benignos (Bethesda II) são monitorados periodicamente com ultrassom.
- Ablação por Radiofrequência: É uma alternativa minimamente invasiva para nódulos benignos, mas que são grandes, esteticamente incômodos ou causam compressão ao engolir. Usamos uma agulha especial para "queimar" o nódulo e fazê-lo reduzir de volume, evitando a cirurgia.
- Cirurgia (Tireoidectomia): É reservada para casos onde há alta suspeita ou confirmação de câncer (Bethesda V ou VI) ou para nódulos benignos que são muito volumosos e não respondem à ablação. Nossa cirurgia evoluiu, e hoje buscamos o máximo de segurança e a melhor recuperação possível para você.
Ter um nódulo de tireoide é um momento de incerteza, mas quero te encorajar. Você está buscando a informação correta e o caminho mais seguro é sempre a avaliação com um médico especialista, que fará uma análise criteriosa do seu caso com base nos dados científicos robustos.
Confie no processo. O conhecimento é a sua melhor ferramenta.
Conte sempre com a experiência e a dedicação de quem se preocupa com a sua saúde.
⚠️ Aviso Legal
Este artigo foi escrito com o objetivo de educar e informar, apresentando a visão de um especialista na área. As informações contidas aqui são baseadas em diretrizes médicas e na experiência clínica do Dr. Erivelto Volpi, mas
não substituem em hipótese alguma a consulta médica presencial ou a avaliação especializada. A sua conduta de tratamento deve ser definida individualmente, após a análise completa do seu histórico, exame físico e exames complementares.
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